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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

JOSÉ BELIZÁRIO NUNES
( BRASIL – DISTRITO FEDERAL )

Nasceu em 1936.
Reside em Brasília, DF.

 

NUNES, José Belizário. Cartão de Natal: poesia, por José Belizário Nunes e Patrícia Branco Nunes.  Brasília: Ed. Carne de Sol, 1980.  86 p.  
Exemplar da coleção de Antonio Miranda, doação do (livreiro) amigo Brito, em setembro de 2024.

Este livro é dedicado à memória de LUIS VAZ DE CAMÕES, nos quatrocentos anos de sua morte. Poeta, soldado, arruaceiro, amante desesperado, foi ele quem começo esse rolo todo.”


CAMONIANA

Esta mágoa feroz e contundente,
igual a cão de fila do meu lado,
se transforma de estorvo em bom presente
Talvez por tê-la tanto carregado.

Tal é força do tempo, indecifrado,
que transforma em feliz o penitente,
em ternura o castigo impertinente,
em futura alegria o mal passado.

Quantos mistérios há não resolvidos,
quantos gestos de amor não percebidos,
quantas formas de ser não reveladas!

Culpa é do tempo, talvez, por mil razões,
desde a que enche de tédio os corações
até a que entristece as madrugadas.


TANGO

Você me transportou à sua fantasia,
o espaço que eu procuro, o clima que eu queria,
agiu, me liberou de impasses tão pequenos,
brigou, me defendeu de todos os venenos,
pousou na minha ilha, abriu dos sete lados,
encheu meu calendário de dias feriados,
limpou minha cabeça de traumas obscuros,
cegou meu desespero com óculos escuros,
mexeu no meu sistema, nas regras do meu jogo,
pôs graxa na ferida aberta a ferro e fogo,
me embriagou nos bares, rasgou todas as contas,
multiplicou o tempo puxando pelas pontas;
enfim, me descobriu na noite da agonia,
deitou-me nos gramados, plantou na minha cara
uns ramos de alegria.

 

DISCURSO DA ARTE

                    O artista deve rejeitar o poder.
O papel do artista é fazer arte.
(Oswaldo Montenegro)

A arte é o que te move e te resolve; te quebra a
casca e a máscara, te arrebenta; te dissolve ou
te envolve, te comove, onera, regenera e te
contenta.
Se a solidão te agarra e pesa a barra, ou o medo
de viver te desarvora, então ela te escora e te
sustenta.

Se é preciso silêncio, te recolhe.
Se o trigo é necessário, te alimenta.
Se é preciso chorar, chove-te a cara.
Se cismas de odiar, te violenta.

Se esperas um descanso, um tempo manso, então
ela te abriga e te acalenta.
Se o caso é de ficar, fica comigo; mas, se der
de mudar, te reinventa.
A arte é teu sentido e direção, informação que
ordena e representa; que te racha, ou te pune,
ou te reúne, escancara e te fecha e te acrescenta.

*
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Página publicada em dezembro de 2024


 

 

 
 
 
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